Será que, finalmente, a mineração
encontrou um adversário à altura? Acostumada
a enfrentar indígenas com facões, arco e flexa,
quem sabe, desta vez, os caciques desta atividade vão
estar às voltas com outra guerra particular e menos
tranquila.
Segundo reportagem publicada em junho de 2008 na Folha
de S. Paulo, assinada pelos jornalistas Valdo Cruz e Sheila
D´Amorim, da sucursal de Brasília, o governo
está cogitando de um novo marco para o setor, que
deverá incluir o aumento da tributação
sobre a exploração mineral no Brasil e a regulação
da extração em terras indígenas..
As medidas, se efetivamente concretizadas, se afinam os
parâmetros da justiça social, visto que, apesar
da imensa carga tributária brasileira, há
setores que merecem mesmo ser enquadrados, visto que, de
há muito, tem contribuído para a degradação
do meio ambiente, oacirramento de conflitos, ao mesmo tempo
em que auferem lucros formidáveis, explorando os
nossos recursos naturais.
Há, segundo informa a reportagem da Folha, um desequilíbrio
no pagamento dos tributos. Assim, a Petrobrás contribui
muito mais do que as grandes mineradoras (a Vale paga pouco,
muito pouco pelos lucros gigantescos que tem) e essa é
uma situação que , segundo o Governo, precisa
ser acertada.
Alguém até pode argumentar que, na verdade,
o Governo está mesmo interessado em aumentar a sua
receita, indo em cima dos setores mais lucrativos, mas há
uma justiça implícita nesse caso: quem lucra
mais, deve pagar mais, e não apenas de forma nominal
(as mineradoras usarão este argumento sempre e continuarão
gastando fortunas em campanhas publicitárias), mas
proporcional. Na prática, os trabalhadores que têm
desconto direto em seus" holleriths" pagam mais
do que a maioria das grandes empresas nesse país,
assim como os pequenos comerciantes que vêem o fisco
todos os dias batendo à sua porta.
Precisamos de maiores investimentos na exploração
de jazidas, para o mapeamento geológico e atenção
especial ao impacto brutal que a atividade mineradora tem
no meio ambiente nacional. Não é possível
continuarmos à mercê deste discurso grandiloquente
de grandes consumidores de energia e de recursos naturais
que têm pressionado o Congresso e governos estaduais
com o objetivo de manter os seus privilégios.
Está na hora de apresentar a conta. Num país
democrático e socialmente justo, os que lucram com
a exploração dos recursos que são de
todos nós devem pagar mesmo.
Todos sabemos que um lobby fantástico estará
sendo montado para impedir que interesses poderosos sejam
contrariados, mas a sociedade, o Governo, o Congresso precisam
resistir a esta investida. A responsabilidade social passa
obrigatoriamente por essa contribuição, mas
parece que as mineradoras e outros setores (tabaco, saúde,
agroquímica, montadoras etc) têm outra metodologia
de análise, comprometida sobretuda com o próprio
bolso.
Que a proposta do Governo não fique apenas na fala
e no papel. Repartir é bom e é isso que vale.