Ano I - Nº 01 - Abril de 2007

:: Mudanças climáticas: a fatura vai chegar

 

      Quem se assustou com os dados contidos no primeiro relatório da ONU sobre mudanças climáticas, lançado em fevereiro de 2007, tem agora mais motivos para se arrepiar. Os cientistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) acabam de divulgar em detalhes os efeitos presentes e futuros da ação humana sobre o clima. E , apesar das pressões políticas, não puderam desta vez colocar muitos panos quentes. Pelo contrário, apontaram os responsáveis que pagarão a fatura dos prejuízos causados sobretudo pelas nações ricas.

      Você tinha alguma dúvida? Pois é, são as populações dos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento que ficarão com a maior parte da conta, sofrendo dramaticamente os efeitos da ação nefasta do homem e do progresso (?) sobre o clima.

      Os pobres, particularmente na África (mas também os europeus, os latino-americanos e asiáticos), enfrentarão problemas terríveis derivados do declínio da produção de alimentos e da falta de água. Estima-se que alguns bilhões de pessoas nas próximas décadas não disporão de água para suas necessidades básicas, outras centenas de milhões passarão fome severa pela degradação dos ambientes e mais de meio milhão padecerá com as enchentes.

      O novo Relatório do IPCC adverte para o desaparecimento de um número formidável de espécies (cerca de 40% se a temperatura subir 4 graus e 20 a 30%, se ela subir 2,5 graus) e para a possibilidade de extinção dos recifes de corais. O número de casos de desnutrição, doenças intestinais, infecciosas e cardiorespiratórias poderá crescer assustadoramente e cerca de 1/3 das áreas alagadas costeiras deverá desaparecer. Enfim, um quadro trágico e que pode, segundo alguns cientistas, ser ainda pior, dependendo das condições.

      Para o Brasil, as conseqüências também serão funestas: o sertão pode virar deserto e parte considerável da Amazônia se transformar em cerrado. Evidentemente, a nossa festejada biodiversidade se verá ameaçada, com a extinção de um número incalculável de espécies vegais e animais.

      Há algo que se possa fazer? Certamente, embora os governantes, em especial dos países ricos, não estejam dispostos a aceitar com facilidade as restrições impostas pela realidade. Tanto é verdade que o Protocolo de Kyoto, recém assinado, e que consiste no compromisso de boa parte das nações em reduzir o efeito estufa, ficou apenas no papel porque as emissões de carbono, em vez de declinarem, aumentaram depois da assinatura do acordo.

      Um novo Relatório está sendo esperado ainda para este semestre e ele indicará as saídas para o problema. De qualquer forma, não se pode esperar milagre mesmo, até porque já se sabe que as propostas virão no sentido de atenuar o impacto e não de impedi-lo. O estrago feito não poderá mais ser revertido e, agora, precisamos estar comprometidos com duas coisas: refrear a degradação do meio ambiente e estabelecer mecanismos para controlar os efeitos do nosso impacto sobre o clima.

      Precisamos fazer, cada um de nós, a nossa parte mas é fundamental cobrar dos governantes de todo o mundo ações enérgicas para evitar o caos. Quem sabe o Bush, presidente da nação mais poluidora do planeta, entrega o seu lugar, nas próximas eleições, para alguém mais responsável social e ambientalmente. Se os EUA não colaborarem, o mundo pouco poderá fazer. Pressão neles. Está na hora de dar uma basta: eles já sujaram o quintal do mundo demais.

Em tempo: o Brasil tem obrigação de dar a sua quota para a solução do problema. O desmatamento pode até ter diminuído, como apregoa o Governo, mas ainda é elevado demais. Continuamos caprichando no discurso e fazendo pouco, muito pouco, na prática.

 
 
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